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Luiz Gelatti

Estrategista digital na Wuman

Henry Ford não perguntou às pessoas o que elas queriam. Você deve fazer diferente

 

“Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito cavalos mais rápidos”

 

Todos conhecemos a famosa frase atribuída à Henry Ford.

Ela costuma ser usada de exemplo pra defender que as pessoas não sabem o que elas querem e que, por isso, fazer pesquisa com os consumidores não dá resultado. Passei a gostar muito dessa frase, porque ela diz exatamente o contrário — pra quem aprendeu a enxergar.

Segundo Ford, ao perguntar as pessoas o que elas queriam, elas teriam dito cavalos mais rápidos, certo?

Eu concordo com Ford, acredito que elas realmente teriam dito que gostariam de cavalos mais rápidos. O erro é achar que isso não seria suficiente.
 
O ser humano utiliza do seu próprio repertório para entender o mundo e se comunicar. Seu repertório é construído através das suas experiências: seu cotidiano, os objetos que conhece, a língua que usa, os comportamentos que observa etc. Isso quer dizer que quando perguntamos algo a alguém, principalmente algo que requeira imaginação, a pessoa irá preencher as lacunas através de assimilação com o seu repertório.
 
 

Exemplo

As viagens para outros planetas utilizando astronautas ainda são inviáveis por conta da distância.

Como você imagina que podemos solucionar esse problema?

De imediato, conseguimos pensar em: robôs; uma espaçonave que utilize propulsão nuclear; viagem na velocidade da luz; teletransporte etc. São todas ideias que já existem de alguma forma, pelo menos em filmes. É muito difícil, pra não dizer impossível, imaginar algo completamente novo porque nossa mente preenche as lacunas através das nossas referências.

E o que isso tem a ver com Henry Ford?
 
Se quisermos nos diferenciar de Henry Ford e de fato entender como podemos solucionar o problema das pessoas de forma inovadora através do que elas nos falam, primeiro precisamos aprender a ouvir. Aprender a ouvir consiste em saber remover as referências que as pessoas utilizam nas suas próprias respostas e manter apenas as necessidades intrínsecas.
 
 

Aprendendo a ouvir

Vamos analisar o real problema das pessoas que responderiam à Ford através de uma técnica chamada de ‘5 porquês’.
As pessoas querem cavalos mais rápidos.

#1. Por que cavalos?
Porque era o que usavam como meio de locomoção.

#2. Por que mais rápidos?
Porque havia necessidade de se locomover de forma mais rápida do que já era possível.

#3. Por que havia necessidade de se locomover de forma mais rápida?
Porque comandantes de exércitos precisavam de um tempo de resposta menor no envio de mensagens importantes aos seus combatentes.
#4. Por que para se deslocar entre cidades era necessário pernoitar no meio do caminho?
Porque os cavalos se cansavam antes de chegar ao destino final e precisavam de um tempo de descanso.

#5. Por que os cavalos se cansavam?
Porque são seres vivos, só aguentam uma viagem curta sem descanso.

Extraindo insights

Perceba que através das respostas para os porquês, começam a aparecer alguns insights. A resposta da pergunta 1, por exemplo, já demonstra que os cavalos são uma mera referência do cotidiano (claro, na vida real a resposta seria um pouco mais perplexa: “como assim por que cavalos? é como a gente anda pela cidade ué”).

Obs: Utilizei essa técnica como forma de demonstração, mas o ideal é que seu mindset de descoberta de problemas passe a funcionar da mesma forma, não importando se são 2 ou 20 porquês. Quanto mais você questiona as respostas, mais próximo da raíz do problema você chega.
Solucionando o problema

Depois de coletar os insights e entender qual é a raíz do problema, podemos começar a pensar na solução.

Para isso, usamos a lógica abdutiva.
Roger Martin, no livro Design de Negócios, explica a lógica abdutiva — criada pelo filósofo Charles Snaders Peirce — como um equilíbrio entre análise e intuição, confiabilidade e validez.
 
 

 

E se…?

O primeiro passo para solucionar o problema é questionar o status quo. Para isso, vamos usar a técnica ‘E se’ (what if).

Para cada resposta que você obteve, se questione se pode ser diferente.

#1. E se as pessoas se locomovessem sem cavalos?
#2. E se mensagens pudessem ser enviadas de outra forma?
#3. E se o meio de locomoção utilizado não se cansasse?
#4. E se não fossem utilizados seres vivos?

Boas perguntas, não é mesmo? Agora vamos trabalhar em cima dessas hipóteses. Como poderíamos…?
 
A técnica ‘como poderíamos’ (How Might We — HMW) é um método de brainstorming. Serve para nos ajudar a pensar em infinitas soluções para as perguntas levantadas.

#1. Como poderíamos nos locomover sem cavalos?
Andando, correndo, rolando, deslizando, escalando, nadando, em navios…

#2. Como poderíamos enviar mensagens de outra forma?
Gritando, soltando sinalizadores, enviando pombos, utilizando correntes elétricas…

#3. Como poderíamos utilizar um meio de locomoção que não se cansasse?
Deslizando através de cabos, através da força do vento, indo à favor de uma correnteza, utilizando máquinas…

#4. Como poderíamos utilizar máquinas para se locomover?
Através de energia mecânica…

#5. Como poderíamos fazer com que máquinas gerassem energia mecânica?

#6. Como poderíamos fazer com que a máquina se locomova?

#7. Como poderíamos fazer para controlar o caminho que a máquina fará?
 
 

E por aí vai…

Perceba que o brainstorming consegue nos levar para diferentes formas de soluções. Quanto mais nos aprofundamos em uma vertente (como a solução através de máquinas), mais específica passa a ser a solução.

Desta forma, podemos criar diversas soluções diferentes e testar as hipóteses até encontrar a solução que melhor resolve o problema.

Portanto…

Agora que você sabe de que forma deve ouvir as pessoas, quando elas te disserem que o que querem são cavalos mais rápidos, cabe a você analisar o que elas realmente estão querendo dizer que precisam.

 

 

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